Monday, January 26, 2009

Inquietude


Alguma coisa estranha
anda rondando o país:
nos braços do estivador,
nos beijos da meretriz;
no cantador de cordel,
nas previsões da vidente,
se espalha feito ma peste
e toma conta da gente...

Conspira nos botequins,
bate na porta das casas,
faz procissão nos confins,
desperta o sono das brasas.
Há um perigo constante
de que um dique arrebente
e o velho rio da esperança
cause uma nova enchente...

Há uma inquietude no povo
que a notícia não diz,
de ir pra rua, de novo,
e refazer o país.

Anda inspirando o poema,
sofrendo o a fome das vilas;
pegando trem no subúrbio,
perdendo a vida nas filas.
Vive descalço nas praças,
gastando a infância nos morros,
vendendo as moças nas docas,
e, às vezes, pede socorro...

É um festim de mendigos,
é um motim de guitarras
onde se insurgem profetas,
onde ressurgem cigarras.
É o cotidiano das ruas
numa comédia febril
e, às vezes, vira tragédia
pelos sertões do Brasil.


Vaine Darde

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